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Folhas partidas
Saturday, September 30, 2006
 
Em tudo se esconde a catarse, que eh um passo para a felicidade e outro, maior, para o destino. Nenhuma beleza que facil se entregue nem a luz vis�vel demais � aquela que esperamos ao seguir a estrela. Nada temos a poupar, porque nada temos e, por isso, ainda nada tamb�m a perder. O amanh� desmentir� o hoje e o silvo das seis ir� contrariar o ambiente em que o silvo das cinco se fez...
 
 

Hoje, quando o telefone tocou cedo, e ainda chovia forte, num primeiro momento nem imaginava mais que a vida poderia estar de novo me dando uma chance, mas era.
 
Tuesday, September 19, 2006
 
Quinta-feira, dia da árvore. Véspera do Festival de Cinema. Envolvidos, ela perfumada dela mesma, cheirinho de chuva que começa; ele firme que só. Chove muito na Glória. Ela disse Você não quer tomar banho? Seria ótimo. Veio até o sofá onde estava sentado, ajoelhou-se e tirou-lhe os sapatos. O cérebro recebe essas coisas em crise aguda de limite e as transporta para essas reflexões taquicárdicas que nunca são concluídas, transformadas que são em outro tipo de pensamento, obscuro e viajante, como quando se fica na fronteira antes de acordar e não mais no transe do sono. Ela desabotoou-lhe a camisa e os nervos dele iam desfazendo o que as mãos faziam e refazendo-o segundo o rigor de uma estética de prazer captada da poesia perdida naqueles dedos. Nada falavam. Ele toma sobre si os mistérios da mulher, de pobre menina feia a senhora respeitável e rica, e acompanhava a dinâmica das metamorfoses continuas que, não permitindo julgamentos definitivos, o ser humano dentro dela desviava para lugares onde quando ele julgava chegar na suposição de entende-la, ali já não estava. Era a própria essencia do prazer que o possuía, o da impossibilidade, ou de nada definir exceto quando a definição já perdeu o sentido - o sábio prazer da insegurança, de um conhecimento limitado ao sabor de um momento que irreversivelmente passará e, por saber-se de sua transitoriedade, chegamos à perfeição de faze-lo eterno. Quando desliguei a água do chuveiro, ela encostou a cabeça em meu ombro e seu abraço foi o das partidas e reencontros. A luz da tarde dá ao banheiro requintes de eternidade. Uma amplidão que enleva, assim, assim. Fecho os olhos. O final do dia é suave, a noite desceu dos céus e nem parece, tudo está em paz. A árvore homenageada ficará lá atrás, amanhã. Ano que vem, mesma data, onde estaremos?
 
Sunday, September 17, 2006
 

A meteorologia não se enganou quanto ao frio em Friburgo. Fomos para o sítio. O cio cintila lá embaixo. A memória e a perspectiva nos transportam. O que se diz recordação faz parte do presente e o que se chama projeção está no mesmo hoje compreendido. O presente contém a ansiedade que virá e na nostalgia o que passou. A vida nos transporta. E se ela é vapor que logo se desvanece, evito a presunção. Há mais que passado na arrogância do jornal antes da internet e mais que futuro na blogalização hoje dos colunistas da mídia oficial. Tudo no mesmo movimento perpétuo. Muitos ainda vivem nas redações em três tempos que não existem (ou não existem mais?). A internet vai destruindo toda certeza, de que se alimenta a jactância. Ontem o jornalista era quase um deus, e um escritor deus inteiro, e boa parte sentia-se assim. Hoje, alguns mudam o tom, e não por acaso sobretudo os mais ligados com tecnologia (que é o futuro hoje) e moda (que nasce do próprio reconhecimento de que tudo é fugaz). Colunistas escrevem como se blogassem, na boa. Troca-se HD e celular por vestido, um vestido por relaççoes familiares, casamento, quem fala de música abre espaço paa seu pessimismo, e quem não é especializado em nada ganhou com essa mudança, pq é como se já escrevesse, ontem, no futuro. Essa exposição da intimidade é meio chata, diz a amiga querida e contato do multiply, porque porque Quem quer saber acerca da vida pessoal de quem escreve sobre determinado que é o motivo do leitor? Pode ser. Mas é tb que as relações de poder estão mudando. Tudo bem que na própria net há uma tendência semelhante, de gente com perfis maravilhosos, todo mundo melhor amigo de todo mundo, sermos muito populares, vale dizer, poderosos hoje. Essa lengalega que nos infla é em que diferente dos que se julgavam "formadores de opinião" ontem? O carro chega a seu destino e ninguém dentro dele se atreve a dizer que a manhã que se derrama, como todas as manhãs do mundo em qualquer tempo, como a primeira, não será todavia uma nova manhã. O presente e o passado estão para se encontrar no sítio e o acorde balsâmico de musgo que chega no ar chegará ainda quando não houver mais minha consciência ou a de um jornalista ou a de um escritor para o discernir. Essa manhã em Friburgo é essa outra de amanhã no Rio e tem a mesma substância de que se consistiu a manhã de ontem na estrada. A tarde em que fiz meu cadastro no site compreende a de hoje de quem lerá o post. E nãoi há como um jornal estabelecido se manter atualizado nesse sentido, porque lida com noticias segundo a letra morta academica, e quem bloga não faz distinção entre pesquisa presidencial e a simpatia da vizinha, entre a violência em SP e o primeiro beijo de uma adolecente - e quem irá decidir o que é mais importante para a vida q os transporta? Ainda assim, antes de ouvir a meteorologia, que tem espaço nobre na imprensa, soube do frio em Friburgo por meio do email de um amigo e poderia ter sido de seu post da madrugada. Olhe esse trecho do rio lá embaixo. As águas - todos os oceanos do mundo e todos os riachos do bosque - o tempo - correndo límpido entre a florescencia e levando, como uma folha, a nossa vida, reflete a vida em tempo real e acessível a qualquer um, que assim tem tudo pra ser mais justa e divertida e, naturalmente, melhor.

A Internet e os jornais; o tempo e o poder
 
Monday, September 11, 2006
 
P4D; C3BR. P4BD; P3CR. P3CR. Luis esperava muito por minha jogada seguinte que acabou sendo mesmo a óbvia saída de bispo. A contemplação da estética do tabuleiro não é certamente o meio mais eficaz de controlar o centro e ganhar o jogo, mas meu poder de concentração está comprometido. B2C jogaram também as brancas. Demoro a perceber e a responder ainda mais. Ele liga a TV baixinho, roco e retorno ao amanhã. Estou pensando em como as coisas não andam no meio literário, em como o meio literário é cada vez mais o mercado literário. Luis, mesmo uns segundos antes distraído com as notícias do telejornal da madrugada, C3BD, retrucou rápido. Eu também estava pensando em vida em comum, morar junto, vantagens e desvantagens; em como conseguir um ap bom e barato pra alugar no Rio é complicado. P3D. Mas minha casa será sempre mesmo a literatura. Foi assim q sobrevivi o inverno ao relento em Lisboa, lendo; foi assim q passsei pela experiência conjugal anterior, subsistindo de livros de bolso. Mas q mulher viveria com um escritor q não tem mais saco pra suplicar pela atenção de editor (isso equivale a privações, incertezas e o bastante pra sobreviver mesmo, não mais). P4R

O xadrez é como certa forma de arte. Quando pares se encontram, se reconhecem, não querem perder o contato. Não se sentem confortáveis no mundo. Mas sempre há na claridade quem não se beneficie da luz, prefere antes seu reflexo no espelho.

Voltemos ao tabuleiro. Faço minha jogada, cavalo (5C) para a casa quatro na coluna do rei, e me levanto; vou à janela. Luis pergunta Vc viu isso? O homem se atira do Trade Center. Cerca de 20 metros por segundo, simétrico 'as torres, de ponta-cabeça, é imortalizado por Richard Drew. Minha sombra na parede superado os limites determinados. Perdi trabalho, família, bens, mas tenho ainda a paixão da entrega, 9 romances que, enquanto eram recusados, iam se aperfeiçoando (agora só se aperfeiçoam...). Sinto cheiros q mais ninguém, ouço sons q mais ninguém – eu, definitivamente mais ninguém. Xeque, declara Luis. Torno aa mesa. Interponho maquinalmente a torre entre a dama e o rei brancos. Mas antes que sofra outro xeque, derrubo a peça pela cruz da coroa, com a mão do perdedor estendida. Todas as coisas se tornam serenas no universo pq fazem parte da serenidade q me toma. Eu decido o que as circunstancias ao redor devem ser. Não o inverso fatídico. Guardo as peças na caixa e a caixa na gaveta. Té amanhã, amigo. Já é hoje.
 
Friday, September 08, 2006
 
O casal sai do cinema em Petropolis. Ele quase pode ser ela. Já não há mais luz do dia. Pode entende-la, quase pensar por ela. Está frio. Na verdade está sozinho, assim caminha. A rua Teresa parece mais longa, distante a cura da mágoa que corrói o que restou, câncer no nada. Você leu a Martha Medeiros hoje? e a matéria de capa da Revista de O globo? contra a morte, só o afeto; felicidade supõe vida etc. Mas ali na noite da serra não há nada disso, só o frio, nem anjos nem sol. Em seu claustro, ela retoma a vida, todos retomam, o que há de errado comigo? -- é doloroso conhecer o Outro em nossa própria essência, é desumano. O objeto do amor terá de ser punido, agora que acabou, é assim que funciona? porque deixou de amálo ou justamente porque ainda ama? A questão é saber quanto pode durar um sentimento feito para consolo, sem vínculos, que se espalha pela cidade sem direito a arroubos, como amizade sem acesso aa casa, como amor sem acesso aas noites; e até pequenas delicadezas são arrancadas pela posse permitida por Deus e aprovada pelos homens, pelo arbítrio - porque sempre é questão de escolha, imediata ou tardia, por fé ou saciedade, por medo ou cansaço. Então ele se vê na festa de aniversário. Toca Starlight, faz frio, é noite, ele constrói seus dilemas com esmero. Qto a ela, que se aproximara cheia de dúvidas de menina - não é sempre assim a mulher? -, agora é toda convicção: errado e certo; culpa, não-culpa; arrependimento e vida q segue; renúncia e usufruto;sexo, repulsa; respeito... -- palavras cabem em formulas sombrias a que não se questiona. Copos tilintam, passa a cigarro fino, a menina ao lado está bêbada,Meu amor voltou, diz o convidado abraçando-a; está tão feliz, nem lembra que há uma semana ela dormia na cama de outro, sussurrava o nome de outro: a perdoou, e mtas vezes perdoar é dar outra chance, a nós mesmos. Saiu pois do cinema, foi aa festinha. Não encontra seu canto. Entra de novo na noite. Só não enlouqueci ainda por causa dos hotéis baratos. Mas terá de ser punido, por transtornar a normalidade, a familia, os afetos permitidos, o lazer inocentes das pessoas oficialmente honradas, por oferecer o que não poderia. Tudo bem, eu sei: é assim que funciona.
 
Friday, September 01, 2006
 
Está na meia idade, tem uma casa num bairro de má fama. As noites são iguais e a rotina da ilusão insiste. Os olhos ainda chorando se iluminam: é a imagem que fica da prostituta de coração bondoso sonhador. A dor transfigurada em fantasia. Não pensa em escapar, mas é a face perversa do mundo: dá esperança apenas para tirá-la dps. Deus nega milagres e os homens, misericórdia. Olham-na e vem com o papo-furado. Deixem-me. A simulação de amor é pior que o ódio. Tudo por dinheiro. Mas é o que ficará: os olhos chorando se iluminam, quando nem a morte vem em socorro. Fellini, superestimado aas vezes, sabe msm todavia explorar em imagens, sombras e movimentos a própria sensibilibidade. O p & b não envelheceu, é outro mundo, só isso. Desde o começo, nem a morte em socorro, e os homens podem só salvar o corpo, não a vida: a ilusão consentida, pela sobrevivência que logo não basta. Giulietta Massima é a cor do raio de luz dessa nostalgia, quando cinema era aquilo, movimento, imagens, sombras para contar uma história e refletir sobre o mundo e a vida, quando o mercado e a celebridade, o lazer pela lazer, passatempo e fuga, quando o dinheiro não era tudo, e por falar em prostituição, quando havia arte, e nos poucos momentos em que ainda hoje é, os olhos ainda chorando se iluminam, e uma mulher finalmente sorri.

PS: Ontem vi tb “O amante de Lady Chaterley”. Fraco, mas deu duas vontade fortes: a da releitura do romance de DH Lawrence e de uma casinha no campo. Melhor ainda a leitura na casinha...=)

PS2: Ao CCBB e Centro Cultural dos Correios se junta (ali quase no largo da Carioca) o Centro da Caixa, excelentes planos B e C pra quem está sem grana.

PS3: Pra quem curte Carmen Miranda, de madrugada passa Entre a loura e a morena

I

As Noites de Cabíria
(Notti del Cabiria, Le, 1957)
De Federico Fellini
Estados Unidos/Itália
117 minutos


Cabiria é uma prostituta baixinha que vaga nas ruas de Roma, procurando um verdadeiro amor, mas sempre se decepcionando. Após ter tentado tudo, inclusive ajuda divina, ela acha seu pretendente dos sonhos no local e hora mais inapropriados.

Giulietta Masina, Aldo Silvani, Amedeo Nazzari, Dorian Gray, Ennio Girolami, Franca Marzi, François Périer,, Mario Passante, Polidor
 
blog de Ricardo de Almeida Rocha Este ano: ricardr - rocha on the horizont mail: Ricardo

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